segunda-feira, 20 de setembro de 2010

identidade

Dia desses, um aluno me perguntou o quanto sou 'familiarizada' com o japonês. E isso me fez pensar. Eu não sou formada em Letras, sou tagarela, falo alto e gesticulo como uma italiana. Como passar confiabilidade nas minhas aulas, se só a minha cara é de japa? Na verdade, sempre vivi uma de crise de identidade. 
Quando era criança, não tinham muitos japoneses "de cara chata" que "comem queijo com barata" em Curitiba. E tive alguns percalços na escola por ser 'diferente' (outra hora conto estes 'causos' vividos).
E, por conta desses pequenos traumas, brigava  quando alguém chamava a mim e a meus irmãos de 'chinesinhos' ou de 'japinhas". Imagine uma escadinha de três criancinhas no elevador, com a maior, de oito anos, te dizendo com toda a fúria do mundo:
- A gente não é chinesinho! Nunca mais chame a gente assim!
É, isso aconteceu quando uma vizinha disse que era lindinho ver três chinesinhos de mãos dadas indo pra escola. De vez em quando, encontro a tal vizinha no elevador da casa dos meus pais e morro de vergonha...
E, quando morei por um ano no Japão, descobri que a minha crise de identidade era real: aqui, no Brasil, sou japa, lá no Japão, sou estrangeira. 
Depois, ainda li uma matéria em alguma revista dizendo que o cérebro armazena em regiões diferentes a língua materna e a estrangeira. E que crianças como eu, que foram alfabetizadas e aprenderam a falar em outra língua, têm um conflito no cérebro quanto ao reconhecimento da sua língua-mãe. Não entendo nada disso tecnicamente e nunca me senti confusa (não mais que a média da população mundial, hehehe), mas comecei a  reparar em algumas coisas. 
No Japão, quando o tema do sonho era ambientado lá, com meus amigos da Terra do Sol Nascente, o sonho era em japonês. Quando sonhava com meus amigos que ficaram no Brasil, era em português. Muita loucura? Sei lá, ainda bem que quando voltei de lá, isso passou.
Porém, nem de longe eu fiquei livre desta confusão linguística.  Por exemplo, quando conto os 'pauzinhos' dos ideogramas japoneses, os kanjis, eu conto em japonês, e quando é pra contar as letras de qualquer palavra de língua ocidental, conto em português. Ou seja, a minha tecla SAP funciona muito bem! ;-)
Coitados mesmo são os namorados, maridos e esposas. Parte da família só fala em japonês entre si e os 'agregados' ficam a  ver navios nas reuniões de primos e tios. Por enquanto, da minha parte e de meus irmãos, a coisa tem fluído bem.
E por aí vai. A lista de exemplos e histórias não acaba.
Dito tudo isso, sigo pensando na pergunta do começo e na minha identidade...
Acho que sou, sim, familiarizada com o japonês, sua língua e cultura, tanto quanto seja possível para uma pessoa criada de acordo com os preceitos tradicionais japoneses. No entanto, fui criada aqui, no Brasil, com mãe professora de ensino fundamental, então, acho que posso dizer que sou familiarizada com o português e a cultura brasileira também. Adoro um churrasco com maionese e sushi! ;-)
E sobre a minha identidade, é como eu me defino ali ao lado: japa-curitibana-carioca casada com um polaco (ainda por cima), uma típica brasileira, com toda a mistureba  boa que só quem é desta terra entende o que é!
(foto tirada em 2007)

6 comentários:

Elô Bueno disse...

Imagino que seja uma confusão na tua cabeça, viu...mas olha, vou te falar uma coisa e não fica brava comigo: acho tãããããooooo fofas criancinhas japinhas!!!!! Adultos também, alguns..rss...assim como os não-japinhas, alguns...rssss....vc é fofa, tem um sorriso lindo e adoráveis olhos rasgadinhos!

bju

Cecilia e Helena disse...

Harumi
É justamente essa mistureba que nos faz interessantes!
Beijos
Helena (neta de avó 1 paraense, avó 2 mineira, avô 1 pernambucano e avô 2 português)

harumi disse...

*Elô, não fico braba com vc nunca, sua boba! eu tb adoro criancinhas japas, mas sou suspeita em falar, né? hehehe.
Obrigada pela visitinha (e elogio!)!! beijoca.

* Helena, tb acho o máximo esta colcha de retalhos brasileira! beijoca.

Unknown disse...

Sempre li que os nossos 'japoneses' quando iam pro Japão, eram estrangeiros, causando uma enorme confusão de identidade. Lá são brasileiros, aqui, são japa. heeee

Unknown disse...

Oi Harumi,

Que legal o seu blog!!!
Dei uma olhadinha nele ontem e hoje resolvi comentar....Só o que eu tenho a dizer com relação a este post:
Viva a mistureba!! rs
Sou adepta dela e fã de carteirinha...rsrs...Sou suspeita pra falar né?!?

Cristiane-san (sua aluna)

harumi disse...

*Denise, é assim mesmo, completa confusão. acho que nem Freud explica! (e isso explica muita cosia em relação a mim, não? hahahaha)

*Cristiane-san!voc6e é totalmente suspeitíssima pra falar!! asssim como eu! hahaahhahaha.beijoca.